Pesquisas e Projetos: quando os dois assuntos se encontram

Mayra Fonseca
4 min readFeb 13, 2023

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Talvez projeto seja uma das palavras mais ditas no início de cada ano. Com o renovar dos ciclos, nos acostumamos a listar os projetos que estão se iniciando, a perceber os resultados dos passados, a nos perguntar os que queremos como futuros.

Por aqui, projeto também foi uma palavra muito presente pra explicar boa parte dos trabalhos feitos em 2022: foram muitas pesquisas para projetos!

É que uma pesquisa pode ser um relevante marcador de tempo na jornada de um projeto. No desenho, nas revisões, nos fechamentos. E são muitas as iniciativas ao nosso redor criando produtos e serviços em torno, por exemplo, de impacto social e/ou desenvolvimento sustentável e/ou inovação.

E para quem está no trajeto de criação-implementação-entrega de um projeto, dado é também respiro. Ainda que seja uma informação não esperada ou que traga uma notícia ruim, um dado sempre colabora para um plano de trabalho, para a tomada de decisão, para entender e compartilhar indicadores.

Entre muitas outras que desenvolvemos, vamos compartilhar aqui 3 linhas de trabalho de pesquisa para projetos que fizemos nos últimos anos.

1. A investigação do problema social

Com a Yunus Negócios Sociais, há mais de 2 anos, desenhamos e testamos uma metodologia de pesquisa que nos permite conhecer mais sobre os problemas sociais e as dores da população em torno de uma causa/protótipo/ideia de um negócio social.

A faísca para um negócio social pode surgir de uma demanda estratégica, de um chamado para a inovação relevante, de um movimento do mercado, de uma oportunidade apresentada por uma tecnologia, da pressão da sociedade, da implementação de uma política pública, da mudança de uma legislação, do despertar de atores internos de uma organização…

Mas para que seja criado um negócio social — e não qualquer outro tipo de negócio — é preciso que ele exista para causar impacto positivo… sim, social. Por isso, na Yunus, a jornada dos projetos começa com uma etapa de pesquisa que é um mergulho nas dores da sociedade com relação ao tema previamente escolhido (saúde da população de baixa renda, alimentação infantil, desigualdade social, inclusão financeira, etc).

Estudo de dados secundários, entrevistas com especialistas e outras técnicas convidam: apaixone-se pelo problema. Com as dores mapeadas pela equipe de pesquisa, o time de estrategistas em seguida desenha um projeto, um negócio, para minimizar ou solucionar tais dores.

2. Censo de atores

Quem são as pessoas atuando em uma organização ou projeto, quais são as demandas e repertórios que elas trazem consigo e que influenciam os métodos e os resultados dos trabalhos?

Um mapeamento que contemple a biografia, mas também a trajetória passada, presente e potencial de futuro. A geografia que a pessoa habita, sua família, sua forma de trânsito, suas dores, seus desenhos de futuro. Já atuamos em trabalhos assim, por exemplo, com a Olabi e com a Transcendemos: no primeiro caso para identificar o perfil das pessoas profissionais em tecnologia no Brasil, no segundo caso revisando uma metodologia própria de Censo de Diversidade nas organizações.

Com surveys online, observação participante, grupos, entrevistas e muito estudo de modelos de metodologia, pode-se implementar ou revisar Censos que colaboram para os projetos na medida em que revelam quem são as pessoas que os fazem.

3. Resultados e indicadores

Talvez um dos principais desafios de quem empreende um projeto seja identificar seus resultados, mapear os impactos que ele causa, consolidar seus indicadores. E essa é uma informação fundamental para rever os caminhos e dialogar com parceiros e investidores. Afinal, em momentos de escolha de projetos para fomentar, importa muito saber qual é a transformação que está sendo apoiada.

Em consultorias para a agência de desenvolvimento da ONU, PNUD Brasil, aprendemos como é essencial ter bases sólidas para apresentar os impactos de uma ação.

Pode-se apurar essas métricas com estudo de relatórios internos prévios, consulta aos indicadores utilizados pelo setor do negócio, levantamento de dados secundários, observação, entrevistas e grupos. E foi isso que fizemos para os projetos PretaLab e Agro.BR nos últimos meses.

Importante reforçar: é sensível preservar o tempo da pesquisa no ciclo de vida de um projeto. Ir a campo durante os momentos-chave, analisar as informações quando elas são decisivas, comunicá-las para parceiras importantes e registrá-las para manter uma série histórica.

Alimento para a alma, seja qual for a metodologia ou linha de trabalho, a pessoa pesquisadora tem a oportunidade de contribuir para uma mudança quando se envolve com projetos assim.

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Mayra Fonseca

Consultoria/Pesquisa. Doutoranda Antropologia. Comportamento, etnografia. Culturas BR/LATAM, sustentabilidade, negócio social, ODS. Palestra, oficina, mentoria.